sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Born to create Drama meets the exorcist




Eu costumava rir-me imenso deste filme e achar imensa piada à marota da miúda, mas porque sempre pensei que pertencesse ao campo da ficção. Até ontem. Quando a minha filha de 4 anos me fez uma birra (se é que se pode assim designar) histórica , tendo-me deixado praticamente de rastos. emocionais. E começa sempre tudo por um pequeno nada. uma contrariedade. que se transforma rapidamente num espernear de pernas, em choro soluçado, em gritos de terror- pouco falta para revirar a cabeça e os olhos. E é no momento em que tentamos não dar importância ,metendo-a não no lugar em que ela queria estar, que há um crescendo de raiva enorme e que se começam a ouvir móveis a tombar, portas a bater. Medo, por mais que ache que ela tem que ficar a pensar um bocado naquilo que está a fazer , que o faça em segurança. Agora grita pelo pai, que lhe diz o mesmo que a mãe e que a deixa ainda mais enfurecida. não há abraços de consolo e tentativa de acalmar que nos valham. grita que a estamos a esmagar (a esmagar diz ela, mas donde é que lhe vêem estes pensamentos). Nesta altura já não nos ouve, já não percebe o que se está a passar, já nem sabe o que quer e nós os dois já somos os seus piores amigos . Grita pela tia e diz que quer ir para casa dela- ainda se dirige ao telefone (só me faltava ela saber digitar os números! ). cospe para o chão , atira mais umas cadeiras para o chão e recusa-se a limpar e arrumar as suas asneiras. pensamos, não. ela não pode fazer o que quer ! tem que limpar e arrumar agora. Diz aquilo que jamais pensaria ouvir, dela, duma criança de 4 anos, a chorar desalmadamente no chão abraçada aos joelhos e com os olhos vermelhos: vocês querem-me matar (morri por dentro) Comigo não medes forças e por mais que me magoes e que me doa tudo o que estás a fazer e a fizer eu vou ser forte. E tomei-a nos meus braços, abraçando-a contra mim. pronto já passou. mas...ainda tentava ela. Pronto já passou. A respiração finalmente acalmava e cedeu abraçando-me com força repetindo vezes sem conta: mãe és linda, mãe és linda...Enquanto os ritmos cardíacos serenavam expliquei-lhe tudo. Que não há necessidade de fazer nada daquilo. que nem sempre se tem aquilo que se quer quando se quer. que lá em casa quem manda somos nós (eu e o pai). que se ela fica triste porque nós não lhe damos logo o que ela pede então nós também ficamos quando a chamamos e ela não vem. que há palavras que não se dizem. que nós somos as pessoas de todo o mundo que mais gostamos dela. que ela não tem o direito de se queixar quando nós lhe proporcionamos a vida que ela tem. que é na cama e no quarto que se descansa e não na sala. que os seus actos têm consequências. que as coisas não são como ela quer e que há tempo para tudo, brincar, comer, ler livros, sair, estar com os amigos, ver televisão, tomar banho. que acima de tudo, nós não nos gostamos de zangar nem ralhar e muito menos gritar com ela. Não sei se ela ouviu com toda a atenção e se sobretudo percebeu aquilo que se tinha passado e as consequências que todo aquele drama teriam que ter. Não sei se as coisas que diz são conscientes e quero mesmo acreditar que ela não tem este tipo de pensamentos para connosco. Queria saber ensina-la  ( sobretudo aprender) a controlar-se, a lidar com a frustração, a gerir a emoção de modo a que as coisas não descambem à mínima contrariedade. Tenho a certeza que agora é a hora de agir, não quero uma adolescente revoltada, revirada e malcriada, que me foge de casa se lhe digo que não. Não tem que haver esta resistência, mas nós temos que nos preparar e ter forças para resistir aos combates ferozes desta pequena teimosa e obstinada criatura que tenta medir força connosco. Vai ser um longo caminho, pois apesar de parecer que ela já sabe tudo , mas sabe ela que o pior ainda está para vir. Na teoria há explicações para quase tudo, mas também se sabe que as variáveis são infinitas e  na pratica poucos são os que têm a fórmula exacta para salvar o momento. Esperamos estar a fazer o melhor, apesar de dar por mim pensar que só posso estar a fazer alguma coisa mal, pelo sim pelo não acho que podemos pedir ajuda. Falar ajuda e partilhar ainda mais e hoje já não me sinto tão sozinha e perdida. Obrigada.


 

3 comentários:

  1. OMG não conhecia o vídeo .... medo ....
    Sobre o que se passou é de facto perturbador, as minhas já fizeram birras idênticas e é horrível ... mas acho que estiveste bem, colocaste os pontos nos ii e ofereceste-lhe conforto e segurança, não quer dizer que não volte a acontecer , mas acho que ela percebeu a mensagem ;)
    E sinceramente acho que é melhor deitar tudo cá para fora do que andar a encher chouriços durante anos !!

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    1. ela tem vindo a fazer, desde sempre...veio com a personalidade dela que tem outros pormenores maravilhosos e fantásticos. Mas o que assusta é o "requinte " que vem com o jogo de cintura. Já não é uma bebé, já não tem 2 nem 3. Já percebe bem aquilo que se lhe diz e por isso é ainda mais difícil chegar a ela. Por outro lado não é um adulto , é sempre uma criança e todas as palavras e gestos contam....Mas olha, já falei e já ouvi e já percebi que afinal estou no caminho certo e o facto de ela estar extra carinhosa hoje só demosntra que percebeu muito bem a asneira que fez ontem.... beijos e obrigada.

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    2. A minha filha nunca fez birras, ja o meu filho houve alturas que pensava que devia estar a treinar para um campeonato de poltergeist ou quaquer coisa do género. Acho que fui a mesma mãe para os dois, com mais ou menos personalização, mas a base era a mesma. Devem haver melhores métodos que outros, mas a personalidade das crianças conta mesmo muito. No essencial, fazia algo parecido com o que fizeste, mais coisa menos coisa. E realente, o que me surpreendia era que uma vez pssado o drama, vinha falar comigo como se não fosse nada, ou, ainda mais ternurento do que antes. Uma técnica que comigo deu muito resultado foi a do Time Out (podes dar uma vista de olhos pela net, ha muita inforamção sobre isto).
      A parte boa, com o tempo as birras tornaram-se cada vez mais leves e espaçadas, so não digo que agora acabaram porque sou supersticiosa. Conclusão : ha luz ao fundo do tunel.

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