A boa, a má e a vilã

E eis que o pior lado de mim veio ao de cima...ou será que afinal somos todos ligeiramente preconceituosos? Passo a desabafar a minha angústia, que até o sono já me tira. A minha menina vai transitar para o jardim de infância, dentro da mesma escola onde fez a creche. A questão é que aquilo funciona em sala aberta e os miúdos de 3, 4  e 5 anos estão integrados na mesma sala, ou seja, os miúdos da creche vão ter que ser separados e divididos em 3 turmas. Até agora nada de especial, a questão tem a ver com o modo e a justificação como vão desintegrar as amizades já construídas e sobretudo como conseguiram fazer sentir a pior mãe e pessoa do mundo. A miúda tem um personalidade, muita ( há quem diga que é preferível assim e eu agora entendo porquê), é uma líder nata, muito teimosa, demasiado charmosa, ligeiramente bruta, demonstra (muito menos que eu desejaria) pouco afecto entre os seus pares, que defende ferozmente  e apaixonadamente quando alguém se mete entre eles, é bastante aventureira e maria-rapaz q.b., adapta-se muito facilmente a todas as situações, tem uma energia fantástica que faz com que atraia todos para junto de si. Está naquela idade e por ter um feitio vincado, as características próprias da idade são bastante evidentes- ou assim quero acreditar... No entanto, vai ser "separada" dos seus amigos, porque a uns abafa a personalidade e a outros choca demasiado, porque a luta pelo poleiro é constante e de acordo com as educadoras, nada positiva (ou isso ou elas dão bastante trabalho que elas não estão para ter). Confesso que fui apanhada de surpresa, porque onde elas a vêem como uma miúda tão espectacular que facilmente se encaixa facilmente em qualquer lugar  e se adapta perfeitamente a qualquer situação, eu não é nada disso que sinto...Mentira, eu sei que ela é assim, mas também acho que ela é apenas uma miúda de quase 3 anos, que apesar de não demonstrar ela é já bastante ligada a algumas pessoas e claro que  vai reparar que os outros foram todos agrupados para outras salas e ela não e provavelmente vai-se sentir excluída ( espero tanto, mas tanto estar errada) e perceber que algo não está bem (com ela). A educadora diz-me que não é "castigo", antes pelo contrário, mas é isso mesmo que sinto e isso deixa-me revoltada. Digam-me que não estou a ser só mãe-galinha e que nós , os adultos é que pensamos demais e que para eles está tudo bem e não sentem estas coisas. Não sei, a questão é que não paro de pensar nisso e mesmo depois de já ter reunido e exposto o meu (e o do pai) ponto de vista, não me sinto mais tranquila. A questão da vilã, surge quando me dizem em que sala ela fica. Vou antes demais enquadrar: sou eu quem vai buscá-la e quando chove estão normalmente todos numa sala a fazer alguma actividade e quando está bom estão em correrias e aventuras no pátio exterior, sendo que normalmente fico lá mais um bocado. Primeiro porque não quero arrancá-la da brincadeira, segundo porque não tenho pressa, terceiro porque sou logo atacada por alguns pirralhos que me querem escalar e que lhes faça cambalhotas ou simplesmente querem falar comigo e por fim para interagir e perceber a interacção entre todos. Há dois anos que vejo aqueles  bebés , meninos e meninas a crescerem e como é óbvio gosto mais duns que outros. Porque são mais divertidos, extrovertidos, engraçados, doces, meigos, macacos, espertos, porque gostam da Laura e simpatizam comigo. Percebi agora que todos aqueles que, ou não me dizem nada, ou não simpatizo de todo, são quase todos da mesma sala. A sala onde querem "enfiar" a minha filha. Não sei se me senti pior por ela ser  "afastada"  dos seus amigos ou ir para a sala dos ( e atenção que é apenas o MEU ponto de vista) últimos com quem eu queria que ela ficasse, dos anafadinhos, dos assim-assim, dos que precisam de espevitar para ter alguma piada, dos que falam para as paredes, dos que parecem ter demasiada pouca personalidade. E foi neste momento que me senti a pior pessoa do mundo, por estar a ser demasiado exigente, mãe-galinha, mázinha, preconceituosa, quando afinal são apenas crianças...