Desde sempre que adorei lidar com miúdos e sempre pensei que
quando chegasse a hora iria ser uma mãe bestial. Tinha a perfeita noção que
criar filhos é completamente diferente que estar com eles ocasionalmente e que
só se tem realmente noção desta enorme responsabilidade a partir do momento em
que temos alguém que depende, em tudo de nós. Depois pensamos que temos o nosso
exemplo enquanto filhos que nos pode ou não dar indicações sobre as escolhas mas
a personalidade de cada um, o tempo em que vivemos e todos os factores externos
podem-nos dar a volta aos planos. Não há livro de instruções e as pistas
válidas para uns podem ser veneno para outros e desengane-se de quem ache o
contrário. Quando finalmente chegou a minha hora de ser mãe não cabia em mim de
felicidade, literalmente! As expectativas começam logo na gravidez e eu nem me
posso queixar porque tive uma gravidez maravilhosa sem enjoos, más disposições,
idas constantes á WC, desejos, quedas de cabelo, más peles, restrições mesmo em
relação à comida, entre outras queixas frequentes, fiz rigorosamente tudo o que
sempre pensei que iria fazer, excepto fumar, beber uma cervejinha em pleno
verão e por incrível que pareça em ter relações sexuais. As mudanças começaram
logo aí sem que eu tenha dado por elas. O dito curso pré e pós parto ajudou-nos
imenso sobretudo para nos preparar fisicamente e psicologicamente para os
primeiros tempos demasiado físicos e extenuantes - aconselho a todos os casais.
Mas por muita preparação que a gente tenha, por muitas conversas que se tenha
com amigas ou pessoas que já passaram pela parentalidade (e que tenho a
sensação de nunca serem absolutamente sinceras), nunca se está preparado para a
MUDANÇA das nossas vidas. O parto foi (quase) maravilhoso e preparem-se para
ouvir o que eu tenho para vos dizer: adoraria passar outra vez por essa
adrenalina! O quase foi o pai não ter podido assistir, por um instante de nada
e foi ela não ter chorado logo… Acho que foi esse instante- que para mim foi
uma eternidade- em que não me colocaram ela imediatamente em cima de mim porque
não respirava, que a minha vida mudou completamente. E era nessa altura que o
pai lá devia ter estado, para me dar a mão com toda a força e dizer tudo vai
ficar bem. Tudo ficou bem, mas tudo mudava. Ela não nasceria de cabelo preto
farto, como sempre tínhamos imaginado. É apenas um pormenor mas que no entanto
resume tudo: inevitavelmente criamos expectativas (por vezes demasiadas) mas
esquecemo-nos que nada depende só de nós… Ser mãe, muda tudo e para mim que
pensava que tudo iria continuar a ser mais ou menos como antes foi o choque da
minha vida. Um choque tão grande que confesso que a primeira vez que saí de
casa, ao final de 5 dias, porque tive mesmo que ir apanhar ar, achei
literalmente que tudo à minha volta, a rua, os vizinhos, os sítios do costume,
tudo estava diferente… Foi uma sensação demasiado intensa. Nas duas primeiras
semanas só chorei e não foi por não ter conseguido amamentar- coisa que sempre
fiz como se as minhas mamas só servissem para isso, ou por dormir mal- coisa
que a minha rica filha sempre soube fazer e muito bem, ou por estar saturada de
mudar a fralda e dar banho – responsabilidades que ficaram a cargo do pai, entre dezenas de outras que
se assim não fosse eu não teria aguentado, ou por qualquer outra questão mais
física, foi porque me caiu a moeda, ou melhor , porque percebi que nada ia ser
como antes e isso ninguém nos avisa como deve de ser. Por isso e antes que me
esqueça, aviso já que criar, educar, não é nada daquilo que pensamos ou nos
dizem que vai ser. As provações vão crescendo a cada dia que passa e felizmente
que o Amor incondicional também, senão tornar-se-ia insuportável. Todas as
nossas fraquezas, dúvidas e as malditas hormonas estão agora no seu exponencial
e ao mesmo tempo é quando precisamos de ser as mulheres mais fortes e
corajosas, porque temos medo que um deslize se transforme em falha na educação.
Porque afinal os nossos filhos são um espelho daquilo que somos e ninguém gosta
de errar. Acho que o pior que pode acontecer é nós anularmos-nos enquanto seres
humanos, que choram e riem e têm momentos bons e menos bons e que ás vezes
acertam e outras vezes falham. Mas é tanta coisa que temos que aprender e
adaptar nas nossas vidas que nos primeiros tempos é quase impossível… Eu acho
que só passados dois anos depois do nascimento recomecei a ter vida própria e
sinceramente invejo quem o consegue fazer muito antes e sobretudo a quem ter um
filho parece (sublinho, aparenta) pouco afectar o seu dia-a-dia. Neste momento a cabeça começa a dispersar, é
que tenho tantas coisas para contar e partilhar sobre isto de ser mãe e outra
demasiado importante que é continuar a ser também mulher (sendo que para isso
ter o apoio incondicional do pai-marido é imprescindível- e sobre isto tenho
mesmo que falar porque se vê por aí cada novela….) Ao longo destes quase 3
anos todas as etapas que vencemos são uma pequena vitória, a queda do umbigo, a
mama, as cólicas, o sono, os choros, os dentes, a introdução de comida, as
dores, os cocós,o aprender a sentar-se, a creche, as idas para casa dos avós,
as babysitter (ainda não superei esta), o meterem tudo na boca, as sestas, as
birras, as manhas, a praia, as festas, as excepções, os doces, as mordidelas e
os puxões de cabelo, a chuva, o calor e o frio, o gatinhar , o andar, o ser
sociável, o saber partilhar, o ser-se
organizado, o agradecer, o cumprimentar, os caprichos, as birras, o testar os
nossos limites, o ser-se paciente, o saber que há limites , o saber ouvir um
Não.
Lembro-me de quando ela tinha um ano e eu me queixava sei lá do
quê, quando me disseram: aos dois é que é. Lembro-me de quando ela fez dois e eu me
queixava sei lá do quê e já me tinha preparado para os famosos terrible two, quando me disseram: aos três
é que é… A questão é que a partir do momento em que eles nascem, as etapas
vão-se tornando cada vez maiores e mais complexas- as frustrações mas também as
compensações vão sendo mais e ás tantas tudo serve é de desculpa para disfarçar
a nossa dificuldade em educá-los. O problema é que lhes
damos as ferramentas todas para poderem lidar com tudo, até que a certa altura
vira-se tudo contra nós! É nestas alturas em que eu me pergunto, em jeito de
gozo: porque é que ninguém me explicou que isto ia ser assim para sempre ?!
i'll be back ...
Muito bom!!! Penso exactamente o mesmo, é uma estafa muito boa e imprevisível.
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