Ando há que tempos para escrever sobre o que muda na relação entre o casal, aquando do nascimento dum filho, mas cada vez que começo a pensar nisso surgem milhares de outros pensamentos sobre o amor, as relações, as pessoas, a complexidade dos sentimentos, o papel da mulher e do homem, tudo isto mais a falta de tempo e acabo sempre por me perder. Acho que tenho demasiadas coisas por dizer e isso depois traduz-se em pouca concentração e sintetização dos pensamentos. Mas agora e depois de todas as coisas que vão acontecendo á minha volta sinto que chegou a hora. Pois bem, ter um filho é a maior prova de Amor que um casal pode passar, sendo que não é de todo um jogo mas antes a maior responsabilidade que temos nesta vida. Acho que a maior parte das pessoas não tem bem a noção disto- é que não basta gostar de crianças, de o relógio biológico estar a dar horas ou mesmo temer ficar sozinho para sempre, e mesmo que tenha há sempre variáveis que não controlamos. Podemos e devemos estar é atentos a todos os sinais...As pessoas casam e descasam desde sempre, (se bem que não são conhecidas muitas histórias do tempo dos nossos avós) e eu como filha de pais separados , cedo aprendi a viver com esta realidade que por um lado acabou por um lado me tornou mais realista ( nada dura para sempre) e por outro mais consciente ( as desilusões podem trazer feridas demasiado grandes). Cresci a ouvir histórias com finais menos felizes, outras que estavam condenadas à partida, outras de sacrifício, outras de ocasião, outras de ilusão, outras perfeitas . Uma separação ou divórcio não é (sobretudo não deve ser) uma coisa de ânimo leve, mas quando há filhos envolvidos então há que ter os pés bem assentes na terra. É claro que aos filhos não têm culpa nenhuma pela separação dos pais, mas no entanto acho que há muita gente que se separa por causa dos filhos, será que me faço entender? Desde que sou mãe, a minha percepção sobre os relacionamentos, para além de ter amadurecido, veio a reforçar muitas das coisas em que acredito. Ao mesmo tempo surgem as conversas e os desabafos de pessoas que passam pelas mesmas questões, dúvidas, receios e anseios e que me mostram outros pontos de vista- sobretudo o lado masculino. Ora bem, ter um filho é uma coisa a dois: Uma mulher e um homem. Á parte da gravidez e da amamentação , que é algo exclusivo da mulher, tudo o resto deve ser uma partilha igual a dois. As histórias do tempo dos nossos avós e até dos nossos pais não podem ser comparadas aos dias de hoje, sobretudo pela grande mudança que existiu no século passado e que se chama a emancipação da mulher. Quero com isto dizer que as responsabilidades do homem e da mulher , são precisamente as mesmas.E se não são, mais cedo ou mais tarde a coisa pode dar de si- mas isto sou eu a dizer, porque deve haver muitas pessoas que ainda acham que isto de ser pai e mãe e diferente. No entanto há aqui um factor muito importante e que é necessário transmitir. A partir do momento em que a mulher dá á luz, há uma mudança maior que ela, física e hormonal e isto é um dado muito importante e que deve ser tratado com o maior respeito e a maior da compreensão.Há uma frase, dita por um amigo que se tinha acabado de separar , que me ficou marcada e que me fez dar o click! a sua cara metade tinha deixado de ser mulher para ser só mãe. Percebi, mas também lhe expliquei o seguinte: Não é fácil ! Porque o instinto maternal nos invade assim que a cria nos vem para o colo, porque ficamos cheias de dores no corpo,porque os primeiros tempos são de grande adaptação, porque a recuperação (ao contrário do que aparece nas revistas cor de rosa) é lenta e tudo leva o seu tempo a voltar ao sítio, porque o cansaço nos consome os dias e as noites, porque as mamas são deles nos primeiros meses, porque lá em baixo aconteceu muita coisa, porque a vontade em fazermos amor é bastante diferente da que tínhamos antes e isto não quer dizer que gostemos mais ou menos do nosso homem, apenas temos uma data de coisas que assimilar. Por isso, tenham paciência (muita) e não desistam ás primeiras contrariedades. O primeiro ano é dose, se bem que daí para a frente nada será como dantes, mas há sacrifícios e cedências que têm que ser feitos por ambos, senão a balança acaba por se desequilibrar e mais cedo ou mais tarde alguém vai ter que pagar . Bem sei que as mulheres são à partida mais complicadas, mas isso não é desculpa para virar costas. It takes two to tango- quer se queira quer não um filho é dos dois, para o bem e para o mal e aqui sim, até que a morte os separe. Temos que aprender a ser mais pacientes, menos exigentes, a saber lidar com a situação de cansaço extremos, a aturar as birras com muita calma, saber lidar com a frustração, dividir tarefas e responsabilidades , dar tempo ao tempo, saber partilhar os nossos piores receios e anseios, continuar a alimentar os sonhos, ajudar, comunicar, explicar e falar. As super mulheres só existem na BD e nas telenovelas brasileiras, deste lado continuam as mulheres em carne e osso, que agora são mães mas também mulheres cheias de vontades e desejos ( só que umas precisam de mais tempo que outras). Se nos anularmos enquanto pessoas que têm as mesmas vontades de descansar, sair, desanuviar, trabalhar, crescer, aprender, estar, conviver, construir, desligar, então mais cedo ou mais tarde a nossa identidade , aquela que antes fez toda a diferença e fez com que nos apaixonássemos, muda. E então é natural que a chama acabe por se extinguir....mas nós não queremos isso pois não? Escrevo em modo desabafo, porque passei por isto tudo e sabe Deus o que me custou sujeitar ás mudanças inexplicáveis que o meu corpo sofreu e respectivas consequências e algum transtorno que isso me causou emocionalmente. Ainda hoje há coisas que não consigo explicar, mas felizmente percebi em conversa com outras pessoas que não fui a única a passar por isto, a diferença está em quem temos ao nosso lado e eu tenho a minha única e melhor metade. Obrigada.
Tanto a dizer sobre isto :) Posso dizer, agora, ano e meio depois, que me voltei a sentir mulher e não só mãe, que consegui encontrar um equilíbrio entre a minha esfera pessoal, a de mim com a minha filha, a de mim com a minha metade, e a de mim com a minha metade e a nossa filha... É dose conseguir gerir isto. Só por isto já somos umas mini-super-mulheres ;)
ResponderEliminarPor muito que gostasse de escrever o contrário, a verdade é que ainda me debato com estes dilemas. Gostava de já ter recuperado essa parte de mim mas sinto que ainda falta grande parte do caminho :| São muitos e longos meses com o sono esfrangalhado, um bebé difícil e mudanças muito grandes. Não ajuda a isso que eu seja naturalmente ansiosa e perfeccionista, que tenha o coração sempre na boca e que, enfim, não seja tão forte como gostaria de ser.
ResponderEliminarMudar-me para aqui também não ajudou nada porque agora nunca temos tempo a dois: somos sempre três. E eu adoro o meu filho mas isso não me impede de sentir saudades gigantes de quando éramos só dois... Calha que a minha pessoa também é a melhor do mundo e que me tem amparado as quedas.
O melhor é que depois de ter filhos e fazê-los crescer saudáveis já poucas coisas podem meter medo ;)
Muito bom! Até te citei...
ResponderEliminarRecuperar do impacto dos filhos, sem ajudas é dificil. A dois e com mais ajudas demora os seu tempo.
Muitas vezes sou injusta e digo à cara metade que não me ajuda nada. Outras vezes até que sou justa. Acho que os homens têm uma dedicação menor às crias do que nós, mulheres.
Todos os dias saio do emprego para ir a correr para casa ter com a minha filha. Se chego atrasada vou com o coração apertado.
Tentamos ter tempo a dois mas é dificil, ou porque não conseguimos ou porque estamos tão cansados que nem conseguimos dar as mãos. Há que gerir bem a coisa...