A culpa não é do Outono, mas dos
dias que encurtam e ficam mais cinzentos e frios. Seja o que for, é costume esta
altura do ano despertar em mim sentimentos contraditórios que me confrontam com
tudo aquilo que gostaria de ser e de fazer. São demasiadas vontades, sonhos e
desejos, deixando-me igualmente feliz mas também um pouco deprimida e
perdida…Ando naturalmente mais sensível e intrometida nos meus pensamentos
confusos, tentando descobrir o segredo para o meu equilíbrio. Se não pensasse muito
e deixasse que fossem as minhas vontades a guiar, só queria poder sair daqui de
quando em vez, perder-me nos xistos e nos riachos, nas florestas e no barro,
nos velhos e nos novos, nos prados e no silêncio, no sujar as mãos e em andar
descalça, na horta e nas conversas, em cozinhados e lãs e bordados, nos tanques
e nos pomares, na lareira e simplesmente estar enrolada contigo sob a manta de
retalhos, nos sons dos vinis riscados e a contar-lhes histórias, nos baloiços
improvisados e em cima da carroça, nos cheiros da nossa terra, doces e
salgados, nos contos e saberes tradicionais, nas cores do Outono, nos moinhos
de pão e de água, nos bons dias, boas tardes e boas noites, sentidos…Queria não
estar aqui, estar aí contigo e com os nossos filhos, quando o tempo deixasse de
o ser. Queria estar aí. Na minha terra, na terra de ninguém, na terra que não tenho. Se eu tivesse, se eu pudesse, se eu conseguisse, se eu não
pensasse. Vou,
vamos, um dia destes...?
Bernardo Sassetti- Epílogo: Amanhã
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