sexta-feira, 5 de junho de 2015

Crise de meia idade ( não só mas também)

Ora bem, a miúda já dorme a noite inteira e já não mama quase nada, já posso ir arejar ideias, jantar fora, tomar um copo, ir a uma peça, ver um sunset, trocar dos dedos de conversa (sem ser online), abanar a anca, vou ligar a quem?.....ah pois é....


Já passaram 40 anos de mim e ainda não aprendi a relacionar-me com as pessoas. Confesso que é uma angústia cíclica na minha vida, sobretudo porque considero que não sou propriamente um bicho do mato, nem uma pessoa intragável. Sou uma pessoa de emoções fortes sim e também algo exigente e sobretudo atenta o que não considero um defeito, mas que talvez seja um entrave ás vidas agitadas e pessoais de cada um. Há sempre alguém que se dá mais, é um facto, mas quando deixa de haver retorno fico completamente de rastos e a partir daí assumo que a desilusão me bloqueia. Talvez seja só por causa disso que não tenha amigos. O problema vem de trás e primeiro muito por causa da minha incapacidade em lidar comigo e logo, como próximo. Lembro-me de ter bons amigos na primária e de brincar à grande, mas só na escola. Não brincava na rua e tinha apenas uma vizinha, da mesma idade, com quem desarrumava o quarto ( o que nos divertíamos a brincar aos jogos sem fronteiras). Depois fui para um colégio, só de raparigas e aí, na pré-adolescência, toda uma rapariga púdica e cheia de complexos de inferioridade , medos e sentimentos de culpa, se apoderou de mim. Há muitas coisas que não me lembro ( e isso confesso que também mexe comigo), fruto da instabilidade emocional que atravessava com o divórcio e consequências dos meus pais. Entre muitos sentimentos confusos,  acho que foi nessa altura que me apercebi e senti , pela primeira vez, a discriminação social  e isso nesta idade foi lixado e difícil de digerir. Vivia encantada e iludida e sem capacidade de me descobrir e afirmar pelo que era. Preferia as miúdas giras, cheias de pinta, nomes pomposos, que cheiravam bem e vestiam marcas e que viviam em casa grandes com jardim, ás outras. Que tola. No entanto é das outras que tenho saudades, porque me lembro que gostavam mesmo de mim e até viam em mim ( facto que descobri recentemente) aquilo que eu não conseguia ver, a minha luz (própria). A adolescência é mesmo do caraças! Continua a ser casa-escola, sem me relacionar com o resto do mundo. Quando mudei para o liceu, no 9 º ano, as amigas do colégio deixaram de o ser, mas isso não teve qualquer importância para mim naquela altura, pois uma grande bomba iria cair sobre mim, nessa mudança: Os rapazes. Pois... é que até aqui pouco ou nada me relacionara com eles e ter consciência do sexo oposto na adolescência com toda a complexidade que me caracterizada, foi para mim o fim do mundo. Levei todo um tempo para conseguir levantar a cara e trocar dois dedos de conversa sem que "me desfizesse em moléculas". É claro que depois quando o fiz , me apaixonei perdidamente por eles. Também chegou alguma rebeldia, mas tão pouca tão pouca que continua a dar importância a tudo menos aquilo que era importante. Cimentar amizades . Mas como o poderia fazer se nem eu sabia o que queria. Queria ir só ao sabor do momento, mas não sei se foi bem isso que fiz. O que fiz foi perder me de amores pelo meu primeiro e grande amor. E deixei de ter olhos para o resto do mundo. Tal como em todas as restantes relações que procurei e tive. Finalmente na faculdade (quando comecei a ter alguma liberdade) consegui começar a relacionar-me.  a crescer. E sim tive muito boas amigas e amigos, com quem ainda me vou comunicando. Mas....há sempre um mas, aliás muitos, tantos quantos os pontos de interrogação e os vazios que me perseguem à medida que me vou tentando recordar deles. Mas a sensação perdura, não consigo manter uma amizade, mesmo quando me vou entregando com tudo o que tenho, a quem vou gostando e confiando. Pergunto-me se me está a escapar qualquer coisa. Já passou muito tempo desde aí. Relaciona-mo-nos com quem está próximo de nós e do que fazemos, ou porque são os amigos dos nossos amigos. Vamos nos acostumando, aproximando, afastando, desiludindo, encantando, perdendo , ganhando e encontrando. Eu acabei por me encontrar há pouco mais de 10 anos, quando conheci a minha melhor metade, mas continuo a mesma miúda, tantas vezes frágil e insegura quanto explosiva e audaz, talvez a continuar a entregar-me desproporcionalmente , quando devia era deixar de criar expectativas. Ou só a concentrar-me e deixar-me de merdas com as que afinal até já tenho. A desculpa agora não pode ser que sou mãe, era só o que mais faltava. A minha vida apesar de longa ainda só vai a meio, por isso quero tudo aquilo a que tenho direito. Isto tudo seria bem mais fácil se estivéssemos todos no mesmo comprimento de onda, mas por outro nada não teria graça nenhuma. Um dia, tudo isto fará algum sentido. Hoje , sinto-me apenas só e sem companhia- para além da família, ok?

2 comentários:

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  2. Ana Guerra da Silvasábado, junho 06, 2015

    Querida Madalena, identifico-me em tanta coisa contigo mas o que eu quero mesmo dizer-te é "bolas, escreves bem para caraças"
    Acho-te uma "miuda" bem querida e cheia de pinta... ou pintosa como já te disse e que pelos vistos que dizer com pinta e garra ;) . Não faço ideia o que é mas, há alguma coisa em ti que transmite mesmo "boa onda", qualquer coisa de bom e isso não "sai" de qualquer um.
    Tens tudo para teres amigos, daqueles bons, tenho a certeza.

    Um beijinho enorme

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