terça-feira, 17 de novembro de 2015

Não, não é suposto explicarmos tudo aos nossos filhos.

Mesmo que o mundo não seja belo. Não é preciso mostrar-lhes a realidade,  para que confiem em nós, ou a percebam. Antes pelo contrário e sei bem do que falo. Tudo tem um impacto emocional e a dimensão dos nossos gestos, mesmo que venham com a melhor das intenções, pode ter um impacto indesejável no futuro das nossas crianças. Hoje de manhã, a mais velha disse para nós o seguinte: O Jesus daquelas pessoas deve estar muito triste com elas. (quais pessoas ? ) Aquelas que mataram toda aquela gente .em Paris. Glup. Foi como se me tivessem encostado à parede, pelo pescoço. Cá em casa não se vê televisão com as crianças. Muito menos os notíciários. E também não falamos nisso à mesa, que é aquele momento em que ela fala no seu dia-a-dia e nós de partes do nosso ( poupe-mo-la das partes chatas, que tem tempo). A parte do Jesus vem da avó e aí não interfiro, terá o seu tempo . Mas pelos vistos, a professora falou com eles sobre isso e até fiquei com a sensação que terão feito algum tempo de silêncio para pensarem no assunto. Não gostei nada da ideia, confesso. Por tantos e tantos motivos que quanto mais penso, outros encontro. Primeiro o enquadramento. Depois o desconhecimento. Depois as palavras escolhidas e a escolha do tema ( será que também já falam em política ? bem na verdade bem queriam impingir o empreendorismo (mas, mas...qual?!) algures no meio do ano lectivo,). Depois as perguntas que ficam sem resposta. Depois o medo que gera. Estamos a falar de crianças de 6 anos, que estão no começo da sua formação e cujo processo de desenvolvimento não é tão simples quanto nos parece, que merecem ainda alguma preservação na sua inocência , que merecem todo o respeito e cuidado nas palavras que se usam para lhes explicar, que merecem a  nossa Verdade ,que achamos ser a melhor para elas neste momento, mesmo que não seja a universal- como se isso existisse...somos 7 mil milhões. É gigante a nossa responsabilidade, pois para além de lhes mostrarmos comportamentos coerentes, sóbrios e inteligentes , perante a  realidade, temos que nos lembrar que tudo aquilo que falamos, somos e mostramos influencia o seu modo de pensar e agir  não só agora mas no futuro, não tão distante.  Não considero uma mais valia, abordar este tipo de assuntos na escola, a não ser no recreio entre eles, porque vale o que vale , tanto quanto as brincadeiras e brigas, que essas sim fazem parte da idade. Já me tinham aviso que a professora em questão  era demasiado gráfica e que tinha gerado alguns pesadelos em crianças 4 anos mais velhas, ainda este ano, a propósito do outro acontecimento também em Paris. Não, não há necessidade. Se não se sabe falar com crianças ( porque afinal nem entre os adultos se conseguem filtrar as barbaridades que por aí se dizem e escrevem e partilham), mas vale estar calado , ou então ensinar coisas práticas, através de jogos, como o respeito, a tolerância,  o civismo, ou mesmo o que fazer em caso de emergência como um incêndio ou um terramoto. Deixe-se para os pais tudo o resto. Somos nós , melhor que ninguém, que conhecemos o nosso filho  e sabemos o que é mais importante para ele, até ele ser capaz de pensar por si. O que ainda falta um bom bocado. É nestas alturas que gostava de mesmo de entender, ou saber os truques para   " adaptar à idade da criança e ao seu nível de compreensão, a transmissão da informação de maneira clara e mais honesta possível " . Talvez em França seja inevitável falar-se com eles sobre o assunto e para isso até encontrei um documento escrito a pensar em crianças a partir dos 7 anos (sim, nestas idades 1 ano faz muita diferença) , que até nem está mal escrito. Se precisarem de ajuda eu traduzo. Mais que isso não me peçam , que esta é a mais ingrata das tarefas...

2 comentários:

  1. Aqui falou-se durante a manhã inteira na escola, não podia ser de outra forma.(Os detalhes são deliciosos, tenho que contar isto) Muitas crianças viram tudo na televisão, a minha filha disse-me que apenas ela e mais dois não tinham visto. E outras, como a minha sabiam, porque lhe falamos. Eu estava na rua, num restaurante quando tudo aconteceu, não muito longe dos atentados, andei cheia de medo na rua e acabei a dormir em casa de uma amiga. Os meus filhos perceberam que algo estava mal e é melhor explicar bem explicado e com detalhes adaptados à idade, do que os deixar na confusão e à mercê da confusão dos outros amigos, que estavam a meter os pés pelas mãos, com historias de Jesus e morte por todo o lado...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Já tinha pensado em ti....mas tal como dizes , vocês estão aí e viveram de forma directa o que aconteceu. Nunca duvidei que o não lhes explicar estaria fora de questão. Já a conversa forçada , por parte dum adulto -sabe-se lá o que vai na sua cabeça-estranho, foi o que não me caiu bem. Não é o medo que construam macaquinhos no sotão, ou de não lhes querer explicar a nossa triste realidade, é que simplesmente não vejo necessidade de falar no assunto só por ser actual...é que não fazíamos mais nada.

      Eliminar