segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Medo e Utopia e tantas , mas tantas outras coisas.

Nada acontece por acaso e se vinha aqui falar de livros infantis ,e sonhos ,e vontades ,e coisas que aconteceram este fim de semana em Óbido no Fólio, e coisas que queria que acontecessem na minha vida, acabo por falar naquilo que não queria, que habita em mim e que pelos vistos se relaciona com tudo isto: o Medo e a Utopia. Por isso começo do fim para o princípio. Um artigo que acaba de esbarrar nos meus olhos e que ...touché ! "O revisor diz-nos que a viagem entre o Rossio e Óbidos durará cerca de duas horas. E eu penso, que a minha outra viagem, aquela que me trouxe até aqui, durou uns vinte anos. Quando cheguei a Óbidos não era bem eu, era mais um estilhaço daquilo que devia ter sido." E é isto que também sou: um estilhaço. aliás muitos estilhaços. demasiados. E é também  tanto isto "E ela, que também fez a viagem de Lisboa até lá, conta-me que se cansou de ter medo. Que o nascimento da filha a fez pensar que queria viver num sítio mais tranquilo, onde não andasse sempre com medo de não ter tempo. Um sítio onde pudesse ser freelancer e deixar de ter medo de perder o emprego. E eu penso, a caminho de um festival literário, cujo tema é a utopia, que se calhar essa é a utopia da nossa geração: Não ter medo". Medo, muito medo.  Tanto que comprometeu a minha vida e a minha felicidade por demasiado tempo. Quase 40 anos de alguém que quase sempre não fui eu. E estou farta. E quero tanto mas tanto deixar de ter medo. Para finalmente ter a coragem de viver tudo aquilo que mais quero e que afinal não é assim tanto. Em Óbidos, no Fólio e na galeria de arte onde estava a Pim!, onde ainda por cima há sempre aquela Alegria em reencontrarmos aqueles tão bons e importantes amigos- aqueles que já deixaram de ter medo- nossos e sobretudo da nossa maiúscula, emocionei-me com a Utopia dos textos do Afonso Cruz , sobre o qual queria conseguir falar. Mas também ele me tira as palavras do coração, quando escreve naquelas lindíssimas paredes brancas: Quanto tempo leva uma pessoa a crescer até voltar a ter a felicidade da infância?  e o tapete do chão quando diz: Não sei se o mundo está preparado para ouvir o que as crianças têm a dizer.  Eu estou. Quero é conseguir sair daqui e para conseguir ter a tal felicidade prometida e que me é devida. Para isso há alguns livros dele para as crianças ToDos, que são simplesmente geniais e que nos mostram esse espanto filosófico da vida que as crianças têm, mas que vamos perdendo quando crescemos ( cheios de medos) .Estes 3 são imperdíveis !


O ideal mesmo seria voltar a ser uma criança... Tem piada que nunca deixei de ser utópica e sempre achei que fosse isso que me estivesse a comprometer. Mas o que queria dizer é que
talvez seja por tudo isto que cada vez mais só me apeteça estar entre crianças.Ao menos elas não me julgam. É um dar e receber imediato. E foi numa contadora de histórias que me imaginei e vi feliz. Já que não os consegues ilustrar, nem escrever, Conta-os ! E é isso que já vou fiz na escola da maiúscula e vou fazer na sala da minha minúscula, porque é assim que se começa. Os caminhos para ser feliz sempre lá estiveram. Agora é questão de quando deixar de ter medos , avançar.  E tu, já estás preparado?

O universo é horrível e injusto. 
A perfeição
Não existe. Por mais que procuremos
ela foge como o horizonte .
E nós vamos sendo felizes e isso é perigoso.
Não há nada mais perigoso que ser feliz.

Era importante que nos irritássemos,
que nos desassossegássemos, 
que exigíssemos,
que nos inquietássemos,
que lutássemos, 
por um mundo melhor, em suma,
que fossemos menos felizes.
mais preocupados.

Ou seja:
se fôssemos um pouco mais infelizes,
seríamos todos muito mais felizes. 

( Afonso Cruz in PIM! 2016)


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