No outro dia houve reunião na escola da pequena, para se fazer um ponto de situação desde o início do ano escolar e para se falar sobre a festa de Natal. Não falei sobre isto antes, porque confesso ter saído de lá ligeiramente incomodada e perturbada com aquilo que por lá se disse e só agora digeri e percebi porquê. Tudo começa com a sugestão duma mãe, que tinha por hábito no seu país, o Brasil, por esta altura de recolher os brinquedos com os quais já não brincava e dar a quem ainda tem gosto e precisa de brincar. Boa ideia, os miúdos levariam um brinquedo para a escola e depois, bem depois começou a confusão: ou trocariam entre eles, ou juntavam num saco e alguém os entregaria a uma instituição, ou eles iriam entregar à junta ou...olha ou nada...que foi como terminou a dita discussão. Enquanto se escolhia a melhor forma de ajudar (afinal era só disso que se tratava a) alguém utilizou a palavra pobre ou pobrezinho o que parece ter incomodado uma mãe que disse preferir não incluir o seu filho de 3 anos no processo por achar que ele não tem idade para estar a ser colocado na situação de "ajudar os pobrezinhos". Outra mãe concordaria e ainda acentuava que esta questão da hierarquia não deveria ser colocada a crianças tão pequenas. Como não se estava a chegar a nenhuma parte e as coisas começaram a tornar-se pessoais e não um "assunto" escolar e mesmo a seguir a uma mãe (aquela que menos esperava, confesso) ter dito uma enorme barbaridade- deviam era trocar só entre eles mas prendas novas....Pois bem, sabem o que vos digo: Não entendo como pode ser prejudicial para crianças entre os 3 a 5 anos doarem um brinquedo que já não usam e muito menos precisam seja a quem for mas sobretudo a alguém necessitado e sim, pobre. Como é óbvio e claro para mim , que os devamos proteger de questões que não são próprias para a sua idade, que só aos adultos dizem respeito e que ainda não têm maturidade para assimilar, mas também sei que não os devemos proteger de tudo e alhear do que se passa à nossa volta mas sim criar, educar e preparar para serem seres humanos respeitadores, tolerantes, exemplares, sensíveis e educados. E sim, aos 3 anos a questão da hierarquia é essencial e já deveria ser percebida por eles, afinal quem manda lá em casa são os pais e na escola a educadora e não eles , porque sim são inferiores e não seres inferiorizados. E sim , aos 3 anos devem saber partilhar tudo (excepto as doenças e os piolhos e más criações) com todos. A obediência e o respeito é um assunto de crianças , sim! tal como a protecção é saber dizer-lhes que Não ! os telefones e aparelhos que lhes metem nas mãos, mesmo antes de saberem andar e falar é que são assuntos de gente crescida, por isso que os querem tanto proteger não os deixem em frente a uma televisão e muito menos os silenciem com os vossos " brinquedos" , os tais da gente crescida ! Caramba, ninguém falou ou pensou ou questionou o facto de se colocarem as crianças em situações inapropriadas, desconfortáveis e muito menos possivelmente traumatizantes , porque afinal elas são apenas crianças, que felizmente ainda nos vêem a todos como iguais e que só iriam através dum pequeno gesto, partilhar. O estigma, senhoras e senhores, não está na cabeça deles mas sim nas vossas ! Será que têm assim tanto medo de viverem com o coração, sem perderem a razão ?
Bom, em pequena, a minha mãe obrigava-nos no início de dezembro a escolhermos os brinquedos com que já não brincávamos. a lógica prolongou-se mesmo quando mais velhas chegávamos ao início da estação e queríamos fazer compras de roupa quando já não nos cabia roupa no roupeiro. Mais, serve-me até hoje. E acho mesmo que um reminder de vez em quanto de que há muuuuitos que têm muito menos do que nós - e até ficam contentes com o que temos e não damos valor - é não só uma grande lição como contraria o 'mimo burguês' com que tendencialmente educamos as nossas crianças.
ResponderEliminar(beijinhos)
Sou educadora e todos os anos no Colégio onde trabalho pedimos aos pais para, não só trazerem brinquedos, livros, jogos e roupas, que já não queiram mas que ainda estejam em bom estado, como também pelo menos 1 produto de higiene, e doamos a uma instituição de caridade, e as crianças têm entre os 3 e 5 anos.
ResponderEliminarOs presentes para a troca normalmente são feitos pelas crianças e pelos pais com materiais reciclados.
Além de educadora sou mãe e cá em casa é habitual doarmos o que já não lhes serve ou os brinquedos com os quais elas já não brincam e a mais velha fica contente por saber que está a ajudar quem não tem as mesmas possibilidades que ela.
Os adultos são muito engraçados; acham que não é adequado as crianças conhecerem e refletirem sobre outras realidades mas depois não se incomodam que os filhos vejam a casa dos segredos e a Gabriela que como toda a gente sabe aborda temas muuuuuito mais adequados para estas idades ...