segunda-feira, 28 de maio de 2012

Fractura Exposta

Aviso: O texto que se segue pode conter linguagem capaz de ferir a susceptibilidade de pessoas mais sensíveis. 

O meu pai morreu há já 13 anos e apesar do tempo transformar a dor em saudade, o luto ainda não acabou. Por mais que o tempo sare algumas fracturas, há outras que ficarão para sempre expostas e pior que tudo, por esta altura todos os últimos anos a ferida volta a abrir...Por mais que tente enterrar tudo aquilo que senti e passei nessa altura, há um dado que ainda não me permitiu encerrar o luto. O corpo. Na altura éramos umas crianças, por isso as decisões do funeral nunca passaram por nós, e por não se ter optado pela cremação mas por uma situação mais ou menos provisória, ainda hoje somos sujeitas a um telefonema, demasiado doloroso do cemitério. O corpo. O corpo que teima em não nos deixar. Afinal não sou capaz de continuar......Dói. E eu só queria que o corpo nos deixasse de vez - Para depois só ficar este enorme vazio cheio de demasiadas perguntas e tanto por fazer e contar e partilhar e viver. Pai, sinto a tua falta e queria tanto ter-te amado como sei que tu me amaste....

 

1 comentário:

  1. Querida Madalena,

    A minha mãe morreu há 11 anos. Até hoje não há dia que passe em que não pense nela, no que me diria, que conselhos me daria.

    Lembro-me na altura de achar os rituais fúnebres quase bárbaros (velório-missa-cremação-funeral). Lembro-me de olhar para o caixão (que esteve sempre fechado) e pensar: "a minha mãe não cabe ali".

    Hoje tenho saudades do corpo dela: dos abraços, de me tirar o cabelo dos olhos com dedos que são iguais aos meus e do colo que nunca deixou de me dar.

    Em 11 anos fui uma vez ao cemitério. Não sinto qualquer espécie de proximidade com o que lá está. Nem sei bem explicar. Aquela coisa das flores, parece-me absurda.

    Mas a minha mãe, aquela que não cabia num caixão, muito menos na pequena urna onde estão as cinzas, de certa forma *sinto-a* ainda.

    E muitas vezes *sei* o que me queria dizer. Mesmo quando são coisas que não quero ouvir. E esse pedacinho dela ninguém me rouba, nem cabe em lado nenhum.

    O resto são átomos e matéria. :o)

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