Hoje, não fosse um pequeno gesto ter tido um
efeito de ignição nas saudades que residem em mim e este dia dos avós teria
sido completamente (in)diferente. Triste por motivos próprios desta época que vivemos demasiado á pressa e cheia de pressão. Ser-se avô nos dias que correm não tem nada
que ver com o tempo dos nossos avós, que para além de terem sido pais sempre
presentes também tomaram conta dos filhos dos seus filhos. Hoje os nossos pais
das duas uma, ou ainda estão a trabalhar e a lutar por uma reforma digna que
lhes teimam em dar ou muito provavelmente já não têm bem idade, uma vez que
somos pais cada vez mais tarde, nem forças para ficarem com os netos. Hoje há
um lanche na escola da miúda para eles e nem os maternos nem os paternos podem
estar presentes e isso é ligeiramente chato e um pouquinho triste. Sobretudo agora
que me lembrei de como os meus avós maternos me fazem falta. Tudo o que sou
hoje e o que quero ser o devo a eles, de um modo que talvez até hoje, eu mesma
não tinha entendido. Mas aquele gesto da minha vizinha fez-me recordar a minha
avó Laura, o seu enorme e largo sorriso, o seu cheiro, o seu penteado e cabelos
grisalhos, os seus vestidos e o que calçava, as suas mão de pele quase
transparente, as suas gargalhadas, as suas comidas, o ser carinho, o seu humor,
a sua humildade, a sua rigidez, o seu encanto, a sua paciência, o seu aconchego
e todo seu amor que nunca, nunca me faltou. Recordo com saudade as nossas idas
à praça, os bons dias ás vizinhas, o levar o jornal ao meu avô que se enterrava
no sofá no quartinho das palmeiras, de apontar no caderno com eles o preço da
fruta e dos legumes, de ajudar na cozinha enquanto preparava o nosso almoço, de
ajudar a meter a mesa na mesa redonda na salinha dos jogos, de mexer e mexer
com a colher de pau o seu famoso arroz doce, de me deixar meter o pé no pedal
da sua máquina de costura, do cheiro dos lençóis e das tolhas de mesa que desde
sempre estiveram destinadas a cada um de nós, de me deixar regar o jardim, de
ir apanhar limões, de a observar a fazer puzzles, de fazer os trabalhos de casa
a seu lado, de ouvir as suas histórias, de rezar todas as noites ao
anjo-da-guarda, dos nossos passeios, de virmos a Lisboa de comboio ao Chiado
dos armazéns grandella, de me dares a mão, dos recantos lá de casa, das noites
com todos lá por casa, dos Natais em que nos pediam para esperar no quartinho
lá do fundo enquanto ordenavam as prendas na chaminé, de espreitar as gavetas
do seu roupeiro, de puxar os lençóis da sua cama para cima, das noitadas de maj
hong, de ouvir as notícias na televisão aos altos berros, das quermesses, do
cheiro do jardim logo pela manhã, de baloiçar nos troncos da ameixeira, de
fazer travessuras aos gatos do quintal da vizinhas, de fazermos doce de Gila, a
tua letra, as viagens a Gouveia, o carro do avô, o toque, o cheiro e tudo o que
partilhamos. Sinto demasiada falta do nosso passado. Tenho demasiadas saudades.
Partiram demasiado cedo e hoje, sobretudo hoje fazem –me toda a falta do mundo.E agora , quem me consola ?

Fizeste-me chorar! Que saudades de tudo isso!!!
ResponderEliminartexto bonito. gostei como passaste para o tu a meio do texto.
ResponderEliminartalvez te sirva de pouco consolo mas podes pensar que ao menos pudeste passar esses momentos com os teus avós. existiram e farão sempre parte de ti.