segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

A caminhada dos Elefantes

"No princípio não havia fim.  Mas quando existiu um fim, apareceram as histórias. Mas esta não é uma história sobre a Morte ". Claro que foi ,  a mais linda, inteligente e brilhante história sobre a morte que nos comoveu, a mim e à maiúscula, sábado passado no Teatro São Luís.
A Caminhada dos Elefantes conta a história de um homem e de uma manada de elefantes. Quando o homem morre, os elefantes fazem uma caminhada misteriosa a sua casa, para lhe prestar uma última homenagem: não era um homem qualquer, era um deles. Um espectáculo sobre a existência, a vida e a morte, e o caminho que todos temos de fazer, um dia, para nos despedirmos de alguém, reflectindo sobre o fim, que é um mistério para todos nós, crianças ou adultos.Baseado numa cuidadosa pesquisa e construção de Miguel Fragata e Inês Barahona, A Caminhada dos Elefantes vem contrariar a efabulação e infantilização de um assunto difícil e profundo. Às crianças será dado o espaço certo para a exploração e compreensão da morte, de forma íntima e pessoal, com a naturalidade que, afinal, é própria do tema.


Tinha lido na diagonal a sinopse e quando percebi que era sobre a morte, nem quis saber mais. Não porque me assustei , mas porque fiquei logo ansiosa, em pulgas, qual criança qual quê! Nem quis saber mais para não estragar a surpresa, ou criar expectativas. Foi mesmo assim que entrei na Sala Mário Viegas e foi comovida e tão imensamente grata que saí de lá, com ela igualmente de coração pequenino: Ó mãe mas esta história foi a sério ? coitadinho do elefante... talvez gostasse de falar com ela sobre isso, mas na verdade os nossos dias voam cheios de coisas (boas) a acontecer e pouco se falou sobre o assunto. Será que temos que abrandar ? Descubro agora, que depois de terem ido com a escola assistir ao mesmo espetáculo, alguns miúdos do primeiro ano fizeram desenhos e falaram sobre isso e o resultado foi , em parte, este : 
"Nós somos como os elefantes. Fazemos fila para entregar flores, mas não temos tromba" Leonãn

"Não sabemos a que horas morremos. É segredo..." Tomás
"As saudades existem, porque alguma coisa morreu." Rafael
"Nós choramos nos funerais não por causa do morto, mas das saudades que vamos ter." Axélia

Curioso. E agora também eu fiquei curiosa. É que isto de falar e sentir a morte tem muito que se lhe diga e pergunto-me se a nossa relação com Ela tem só a ver com o modo como lidamos com a nossa própria vida e existência. Pergunto-me se toda a carga emotiva é também fruto da nossa "culpa" cristã, ou só porque tememos (quase) sempre o desconhecido. Eu tenho uma relação péssima com Ela e que tem piorado com o passar do tempo, mas não queria de todo transmitir essa minha impotência a elas. Por isso me sinto grata (já ela um dia espero que perceba o quão privilegiada tem sido) por existirem pessoas que o façam assim, ou que escrevam e ilustrem em livro. Como os que vou sugerir já a seguir. Até lá  e se não conseguiram ver A Caminhada dos Elefantes, façam figas para que a voltem a repor, ou que se façam muitas mais assim tão espertas. Percebem porque é que a arte e a cultura é tão importante nas nossas vidas, não percebem ? 

1 comentário:

  1. É um espectáculo absolutamente maravilhoso! Viva a arte que nos emociona e nos alimenta a alma

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