quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

diário da minha loucura #1

" as crianças não têm medos. têm medo dos medos dos pais"

 
Faz hoje uma semana , deixei de conseguir ver o copo meio cheio. E talvez só hoje , quando a Júlia me mostrou este desenho, consegui finalmente parár para pensar e articular. Preciso gritar e sobretudo que não a elas, que têm sido as vítimas do meu mal estar dos últimos tempos. Há duas semanas percebi que iríamos  voltar a confinar. Até aqui tudo bem. Já tinha interiorizado que a cerâmica ia ficar em pausa ( isto também dá um post) e até já me tinha preparado para ficar em casa a ler, a fazer tricot, a aprender a pintar, a praticar yoga, a arrumar a casa e até a permitir-me ficar aborrecida. Enquanto isto as miúdas estavam na escola. Júlia no 1 ano e Laura no 6 ano.(outro post) Estava serena ( que ingénua sou...), até que comecei a sentir o pânico dos outros e a pressão para que se fechassem as escolas, porque afinal os jovens continuavam a comportar-se como jovens.(outro post)  Acreditei até ao último segundo, que as medidas deixassem de fora os alunos do primeiro ciclo e com alguma esperança também os do segundo. Mas pelo menos as crianças, essas seriam poupadas a essa irrealidade que é aprender em casa. Caiu-me tudo, quando dum momento para o outro percebi que era isso que ia acontecer. A raiva e a revolta e a angústia continuam por cá. Todos os esforços , todos os sacrifícios, todas as ausências,  todas as limitações, todo o tempo que investimos em fortalecer aquilo que acreditámos ser um bem maior e fizéramos durante todo o ano anterior , não tinha afinal valido a pena. Senti tudo isto como uma punição, como se nada do que nós fizéssemos fosse suficiente, afinal somos apenas uma gota dum oceano cheio de outros (outro post). Dum momento para o outro deixei de perceber o sentido da vida, deixei de suportar ler tudo e todos, aliás tudo e o que todos faziam e diziam me irritavam e me tiravam do sério.(outro post) As dúvidas e o medo começaram a tomar conta de mim. Como seria eu capaz de ficar em casa, com as miúdas neste estado ? que raio de mãe conseguiria eu ser , numa altura em que mais que nunca, ser mãe ( e professora, e dinamizadora, e inventora , e dona-de-casa, e personal trainer, e coacher de positivismo e enternainer ...ok posso estar a ser demasiado exagerada , só que não... ) é o mais preciso ? ( outro post) Onde iria buscar as forças e o animo para que esta família não desabasse ? Estarem de férias seria um mal menor...Talvez seja o tempo que precise para me encontrar mais serena e capaz. Mas até aqui tinha dúvidas: será que haveria tempo para recuperar ? O desenho da Júlia acabou por revelar que não estou enganada, que tudo aquilo que sinto, digo e faço tem um impacto real na vida delas.  Um gigante sol, no lado do passado , uma chuva, no lado do futuro, um arco íris ( vai correr tudo bem....) no presente e uma menina , a mais pequena, cheia de balões- -sentimentos: tristeza, medo, zanga, indiferença. Elas também estão tristes, zangadas, irritadas, inconformadas. Os meus medos são reais e agora são os medos dela. Mesmo que precise de ficar mais algum tempo zangada, triste, deprimida, não posso, e isso tem tido efeitos terríveis em mim. Ando a esforçar-me para que a minha ansiedade não passe para elas, mas esta montanha russa de emoções está a levar a melhor e dou por mim amarga, azeda, a gritar e a pedir desculpas constantemente. O ambiente cá por casa está pesado e nada famoso. Diz que para as crianças, basta sentirem-se seguras e amadas ( O post). Amadas são de certeza, seguras também gostava de me sentir. E a escola à distância ainda nem sequer começou...


 

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